GOVERNO FOI ALERTADO POR ALIADOS QUE CAMINHONEIROS PLANEJAVAM GREVE
Planalto sabia da possibilidade de paralisação pelo menos três dias antes de o movimento eclodir em todo o País
A greve dos caminhoneiros que afeta o País desde segunda-feira é uma crônica de transtornos anunciados. O governo e suas lideranças no Congresso foram alertados por parlamentares da base aliada sobre a possível paralisação e seus riscos, mas ignorou. Faltou sensibilidade política para avaliar e agir preventivamente.
Os senadores Valdir Moka (PMDB-MS) e Blairo Maggi (PR-MT), de regiões profundamente afetadas pela greve, avisaram os líderes do Planalto no Congresso pelo menos três dias antes de o movimento eclodir. Ainda assim, o governo só se deu conta da gravidade quando os caminhoneiros dominavam 128 trechos de rodovias em 13 Estados e a população assistia, impotente, aos efeitos da paralisação de um País cujo abastecimento depende do transporte rodoviário.
A partir de quarta-feira (25), no Sul e no Centro-Oeste, colheitadeiras foram parando por falta de combustível, alguns frigoríficos interromperam o abate e, em muitas granjas, animais morreram por falta de ração. O governo impôs pesadas multas aos grevistas e decidiu reprimir para acabar com bloqueios.
Resumo da greve
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“Dez dias antes havia movimentação clara dos caminhoneiros no Mato Grosso”, afirmou Maggi, maior plantador de soja do País e interlocutor da base do governo junto ao agronegócio. “A gente vinha dizendo que poderia acontecer”, acrescentou Moka, para quem a greve não pegou ninguém de surpresa.
O governador do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), que na quarta-feira foi recebido em audiência pelo ministro dos Transportes, Antônio Carlos Rodrigues, também afirmou que havia sinais claros sobre a paralisação no País inteiro. Ele contou que antes da greve, chegou a organizar uma audiência para discutir com setores ligados ao agronegócio e ao transporte a possibilidade de redução do ICMS como forma de atenuar o preço do diesel, combustível que representa 60% das despesas do motorista.
“Há risco de desabastecimento e de prejuízos aos agricultores que podem não encontrar combustível para a colheita”, alertou o governador. O deputado Nilson Leitão (PSDB-MT) disse que o cenário é tão perigoso que o Congresso deveria trancar a pauta de votações para discutir como aliviar os custos e melhorar a renda dos caminhoneiros, de quem depende toda a cadeia do agronegócio. “O governo não cumpre seu papel da porteira para fora”, cutucou o tucano.
“O governo sabia, mas não acreditou”, disse o deputado Vilson Covatti Filho, interlocutor dos caminhoneiros nas negociações com o ministro Miguel Rossetto, da Secretaria Geral da Presidência da República. Segundo ele, os sinais de insatisfação pipocavam em várias partes do país bem antes do dia 18, quando os trechos de rodovias começaram a ser bloqueados.
Negociação com líderes sem representação
Outro equívoco do Palácio do Planalto, segundo Covatti, foi entabular negociações com sindicatos que não representavam os motoristas autônomos que ocuparam as rodovias, menosprezando o poder de mobilização dos grevistas. O movimento não tem vínculo com sindicatos com quais o governo está habituado a negociar, o que acabou revelando, também, o despreparo do governo para lidar com o improviso.
Covatti reclamou que, em vez de chamar para as negociações, o governo “preferiu sabotar os líderes”, ignorando a presença do principal dirigente do movimento, Ivar Luiz Schimidt, que chegou a ser expulso da reunião em que participavam três ministros, Kátia Abreu (Agricultura), Antônio Carlos Rodrigues (Transportes) e Miguel Rossetto.
Schimidt foi convidado a deixar a reunião simplesmente porque seu nome não constava na agenda. O constrangimento acabou repercutindo mal para o próprio governo, que chegou a anunciar o fim da greve na quarta-feira à noite, mas no dia seguinte teve de assistir à manutenção dos bloqueios na maior parte dos estados que haviam aderido.
O senador Blairo Maggi afirmou que o Planalto, na sua opinião, fez uma avaliação de cenário errada. “Acho que a inteligência do governo falhou”, brincou Maggi. O senador mato-grossense alertou que o movimento não tinha líderes conhecidos, era perigoso e apresentava riscos de distúrbios.
A morte do caminhoneiro Cleber Adriano Machado Ouriques, atropelado por um colega que furou o bloqueio em São Sepé (RS), acabou confirmando a falta de controle e os riscos do movimento.
ultimosegundo.ig.com.br
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